quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Matéria sobre N. Srª do Perpétuo Socorro

Meu primeiro amor  (Nair Pimenta)

Transcrevo aqui, apenas, um trecho do texto de Armando Nogueira, publicado na coluna de Renato Maurício Prado, do jornal O Globo, em 02 de Abril de 2010.

O texto de Armando Nogueira, uma preciosidade, até a data da publicação no jornal, era desconhecido do público, apenas lido, por ele mesmo, na festa de seus 80 anos, ladeado pelas 80 mulheres mais importantes de sua vida.

Que N. Srª do Perpétuo Socorro tenha junto de si este grande homem da Comunicação, um notável cronista de altíssima qualidade.  Ela, certamente, sente-se feliz por ter sido o primeiro amor do tenro e terno menino de Xapuri/Acre.

Leia com atenção, é lindo.

" Meu primeiro namoro não passou de um flerte. Eu devia ter, quanto muito, entre cinco e seis anos de idade.  Eu era um menino de Xapuri. Era Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, estampada numa cartela de papelão que a Eucalol dava de brinde a quem comprasse uma caixinha com três sabonetes.

Guardei segredo do namoro, dois dias seguidos. Tinha descoberto as delícias do amor, mesmo sem saber que era, a um só tempo, sagrado e secreto. No terceiro dia, chamei minha mãe pra comprovar. Mas pedi-lhe que, pra não se fazer notar, ficasse observando, pela fresta da porta.

Chego do colégio. Entro no meu quarto e, num relance, vejo na parede, um rosto feminino me fitando. Ando prum lado e pro outro. O olhar me segue, docemente persistente.

Não é possível – pensei, o peito já palpitando.

Minha mãe, tão compreensiva como sempre foi, me explicou direitinho que o filhinho dela tinha vivido apenas um momento de ilusão… de ótica. Recebia, então, minha primeira aula de física. Findava-se, assim, a aventura amorosa inaugural de minha vida. Doce ilusão de minha infância – infância que os anos não trazem mais.

Desde então, aprendi que Nada é. Tudo depende de quem vê. Ilusões que morrem para renascer.

A vida me ensinaria, também, que não basta entender o olhar do outro. É fundamental ajudar o outro a decifrar, corretamente, o seu próprio olhar, com todos os enigmas, com toda a sorte de exclamações, de interjeições e reticências que perpassam a vida de um ser humano.

Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, de caso pensado ou não, acabaria me abrindo os olhos pra ver melhor o olhar do outro.

Esse o milagre que a Virgem Maria me concedeu. Esse o dom que, sempre, haveria de facilitar minha convivência com o eterno feminino.
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Nota da Coluna: Armando Nogueira, acreano, botafoguense, faleceu em 29 de Março de 2010.

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