terça-feira, 19 de abril de 2011

Paixão de Cristo: a clareira do amor!

Luz que nos libera para um combate de tantas regiões sombrias de nosso existir. Regiões pessoais e coletivas. É na clareira luminosa do Cristo que ainda podemos viver também nossa paixão - noites escuras - sem nos perdermos no caos do desespero.


O amor eterno se revestiu da mais tênue humanidade. Humilhou-se e esvaziou-se de qualquer arrogância impositiva para estar na história feito pão fracionado. O Cristo, em sua Paixão, viveu a infinita bondade de Deus num encontro definitivo com a raça humana. É o que conta-nos cada gesto, cada momento litúrgico de uma semana que a Igreja escolhe como santa. Tempo rico de uma graça que escapa às equações de nossa inteligência por mostrar que somos filhos de um desejo infinito do qual não temos posse absoluta. Sol que nasce para todos! O evento Jesus reserva consigo um excesso de sentido que o possibilita permanecer sempre renovável e atual. Fonte de vida para o coração sedento. A partir de Jesus só o amor conta para quem quer herdar seu reino.

Como lembra Santo Afonso, não é possível mirar o crucificado com um olhar temeroso. Como pode alguém ter medo de um amor tão grande! O amor só quer amor. Toda a violência com a qual Jesus foi tratado não inibiu sua força de ressurreição. O Senhor, servo, inaugurou uma nova ordem: que a violência seja banida do dicionário porque dela não nasce o divino. Agressividade tão entranhada nas malhas enigmáticas da subjetividade de cada homem e mulher. Desejos distorcidos de posse, de domínio, de grandeza que vão dilacerando a harmonia proveniente dos céus. Jesus, diante de sua dolorosa caminhada para a morte, não autorizou nem mesmo um simples erguer isolado de uma espada para defendê-lo. Sua arma única foi o amor porque sabia que ele não perece.

A expressão do amor que ama sem limites, ainda que pendido numa cruz, guarda o segredo da confiança de que o mundo não começa e nem termina em nós. Algo de providente cruza céu e terra. Raio que rompe as barreiras pulsionais da morte. Abre clareiras onde felizmente habitamos e esperamos. Como aquele sol que surpreendentemente entra pela fresta da janela anunciando o novo dia, arrebol. Luz que nos libera para um combate de tantas regiões sombrias de nosso existir. Regiões pessoais e coletivas. É na clareira luminosa do Cristo que ainda podemos viver também nossa paixão - noites escuras - sem nos perdermos no caos do desespero.

Pe. Vicente de Paula Ferreira, C.Ss.R.

Nenhum comentário:

Postar um comentário