terça-feira, 26 de janeiro de 2010

À mesa... texto partilhado pela Diana (MLR - JF)

 Pediram-me para ir fazer uma catequese a adultos sobre a Eucaristia e, como de costume, resolvi-me a "começar pelo princípio": as refeições de Jesus nos Evangelhos, as parábolas do Banquete, a Mesa Comum da fracção do Pão nos Actos dos Apóstolos e nas cartas de Paulo e o tão presente "cheiro a comida" que atravessa todo o Novo Testamento. Quando se começa por aqui e se vai aprofundado o sentido da Mesa e o sinal da Comida comum no Novo Testamento, os cristãos costumam ficar admirados. O grupo era interessante e interessado, adorei estar com eles, mas ao fim dos primeiros quinze minutos estavam com "aquele olhar" de quem ouve estas coisas pelas primeira vez e acha que eu estou a exagerar um bocadinho e, acima de tudo, um bocado desviado do que era suposto estar a falar… Ou seja: "Devem aparecer lá umas refeições ou outras, sim, eu lembro-me, mas dizer que isso é tão importante também é mania dele, de certeza…" EHEHEH, qualquer coisa assim. Já mais que uma vez mo disseram mesmo. 

É algo radicalmente novo e diferente em relação a tudo… É engraçado, por exemplo, que os evangelhos nunca recomendem que se dê esmola para que outros comam. Nem a solução do problema está no recurso de sempre que é ir comprar alimentos para dar. Não te lembras daquela vez em que, com muita gente, os discípulos viram este problema e não conseguiam resolvê-lo com a solução do costume? "Mestre, disseram eles, a multidão veio connosco e não tem o que comer. Manda-os embora… Porque não temos dinheiro para comprar pão para esta gente toda". E a resposta de Jesus foi: "Dai-lhes vós mesmos de comer!". E, na medida em que cada um tirava da própria bolsa o que tinha, a presença de Jesus e a sua Palavra iam gerando esse milagre da Multiplicação dos Pães, um milagre que não acontece na farinha e no fermento mas no coração das pessoas quando passam do Egoísmo à Partilha. A solução, no Evangelho, não é a do costume. Não é sequer uma solução que venha do dinheiro! A solução é um dinamismo de PARTILHA que gera milagres… Nos seus gestos e ensinamento não encontramos o apelo à esmola para a comida dos pobres, mas sim uma insistência na Convivialidade e na Comensalidade entre todos, na MESA TORNADA COMUM. 

Jesus rasgou uma brecha enorme no horizonte humano, na nossa maneira de nos entendermos como gente e projectarmos a história… Não se fechou mais. E "sentado à mesa" com o tipo de gente com quem o fazia, deu-nos um dos sinais mais fortes do caminho de uma Nova Humanidade. Tenta só perceber a diferença abismal para o Projecto Humano entre dar alguma coisa a outro para que ele coma como e onde quiser, ou convidá-lo e sentá-lo à Mesa. 

Os cristãos são os que celebram a Sua Fé no Senhor da História e a Sua Esperança na Nova Humanidade a caminho diante de uma Mesa e no ambiente de uma Refeição"Quem diria?!", pensa uma grande parte… e uns quantos contrariam. Ontem, só para se darem conta, fui buscar todas as referências a comida e comensalidade nos evangelhos. Quem acha que é "coisa minha" ia ficar espantado com a minha própria cara quando o número começou a engordar… Cá vai:
Nos quatro evangelhos há 137 referências a comida e comensalidade! 137!!!
Mateus: 28
Mc: 22
Lc: 56
Jo: 31


Não só Jesus o percebeu e disse perfeitamente, mas as primeiras comunidades de companheiros nossos no seguimento de Jesus também compreenderam que é precisamente nesta experiência básica e comum da Vida Humana onde melhor se comunica Deus e se exprimem os sinais do Seu Reino já em marcha, onde fica mais fácil reconhecer Jesus presente no meio de nós e anunciar uma Esperança verdadeiramente real e digna de Fé.  (Pe. Rui Santiago CSsR)


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P.e Maikel P. Dalbem, C.Ss.R.

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