terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Ecos

Ecos

"Eis que lá das estrelas, ó Rei celeste,

tu vens nascer na gruta ao frio agreste.

Ó Menino meu Divino, eu te vejo aqui tremer."

(Santo Afonso)

Há mais de dois mil anos que chora uma criança numa pequena estrebaria de uma cidadezinha. Chora a dureza do nascimento humano, o desconforto da pobreza, a frieza dos homens. Encontra abrigo no regaço de sua mãe. Colo acolhedor, os braços da mãe são abrigo certo na realidade hostil. Encontra consolo no olhar atento do pai que, cuidadoso, prepara um lugar, com os escassos meios que possuía, para que a mãe e o menino pudessem reclinar e, atento, vela pelo sono dos dois. Eis o mistério grandioso que acontece nesta cena: Deus vem habitar em meio à escassez da humanidade.

Quem tem “ouvido de sentir” pode perceber, ainda hoje, os ecos do choro deste menino. O olhar gritante de tantas crianças perdidas nos semáforos da vida, de tantos velhinhos esquecidos por suas famílias, de tantos homens e mulheres sofredores em sua experiência de solidão e desamparo, de tantos pobres que gritam pelo mínimo, ressoa os clamores daquela criança. Diversos rostos do Cristo clamando por um movimento de carinho, compaixão, irmandade em sua direção. Rostos humanos desfigurados clamando por redenção.

Infelizes os de coração mirrado e surdo, pois estes não conseguem ver a Deus na vida, porque deixaram seus corações serem deteriorados pela mecânica do mundo atual, tornando-se máquinas e esquecendo-se de sua humanidade.

A Deus elevo minha prece: Guarda-me Senhor da insensibilidade. Não permita que a frieza invada o meu coração. Dai-me a graça de ter 'verdadeiros ouvidos do coração', para que eu não permaneça surdo diante de Tua voz no mundo. Cura-me da cegueira e da surdez que não permitem ver no outro meu irmão, filho Teu. Livra-me deste mal para que eu possa viver com a consciência e a certeza de que, com os outros homens, sou família de Deus.

Afinal, o que é a nossa vida se não um dia que se passa na inocência do amor; uma brisa suave que, de maneira tímida e sutil, pode refrescar o ardor das queimaduras do sol de uma existência por si dura. O que é a encarnação se não o grande Mistério de um Deus que ama o homem até as últimas conseqüências. Um Deus que se torna contingente, assumindo a realidade ambígua de sua criatura, simplesmente por amar. Sim Pai, guarda-me da impermeabilidade de um coração que não sente a presença do outro, de um coração que não consegue amar simplesmente por amar.


Este pequeno texto, bastante reflexivo, foi escrito durante algumas madrugadas de insônia e meditação:

Pe. Maikel Pablo Dalbem, C.Ss.R.

3 comentários:

  1. Nossa...muito bonito!
    Se nós não nos cuidarmos, realmente nos tornaremos frios, insensiveis as pessoas a nossa volta...sinais da pós modernidade???
    Que nosso próximo seja sempre acolhido como é a vontade do Pai, Ele é puro Amor para conosco!Obrigada pelas palavras de alerta e pela linda prece. Abraços, Graça

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  2. Parabéns, Maikel, pelo texto. De muita riqueza e reflexão interior!
    Abraços!

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  3. Olá, Maikel, parabéns pelo texto. Realmente me fez refletir.
    Abraços
    Conceição - MLR - Rio

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