segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

O que habita nos céus, ri - Pe. Rui Santiago

Salmo 2,4

"o que habita nos céus, ri"

Ri… Ri como quem tem uma palavra decisiva a dizer, a palavra que transfigurará o peso e a direcção de todas as palavras ditas na história. Como quem tem na palma da mão, ainda em segredo, o sinal que vai mudar os trunfos todos da história, o lugar dos fortes e dos fracos, as cadeiras, os assentos, as primazias e os preconceitos…

O meu Deus ri, ri no alto dos céus, onde habita, estes céus que não são um lugar mas a Sua Liberdade! O meu Deus habita onde é LIVRE, fora das teias dos poderes e dos interesses que se riem dos pobres e dos pequenos. Habita até fora das casas que esses Lhe constroem pensando que também a Ele podem dominar ou comprar. Habita nos céus, que foi Ele que fez e dos quais ninguém se pode assenhorear! O meu Deus ri… porque habita os céus, onde não há tempo que turve a visão dos acontecimentos nem maneira de esconder seja o que for. O meu Deus ri.

É um mistério para mim, oh Deus da Vida… é um mistério esse Teu Riso divino, a Tua Justiça como uma gargalhada que Te sai das entranhas… Hoje, esse Teu riso é a minha força, a minha Esperança! Sim, o eco da Tua gargalhada alimenta a minha Esperança, a certeza de que és forte e tens olhos para ver, ouvidos para ouvir, mãos para agir, pés para caminhar e boca para rir.

Diante da força dos poderosos deste mundo, diante do mistério do mal, faltam-nos as palavras todas. Calam-se. Escondem-se. Choramos. Tu ris. Não como quem não chora, mas como quem não desespera. O Teu riso não é o contrário do nosso choro! NÃO! O Teu riso é o contrário do nosso desespero. A Tua gargalhada não goza com as nossas lágrimas, NÃO! A Tua gargalhada retira delas a desesperança… o Teu riso, oh Deus bom e amoroso, não violenta a nossa dor nem contradiz os nossos gemidos, NÃO! Cura-nos… Cuida-nos… Limpa-nos…

Faz-nos experimentar que não estamos sós e que pertencemos a Ti, o Forte, o Único verdadeiramente Forte. Que ri…

Gosto de Ti assim, Deus dos meus Pais, de todos os meus Pais nestes milénios de história, gosto de Ti assim. O Deus do Riso, que me liberta da maneira mais bonita que há da desesperança, que desamarra os confins embaciados dos meus olhos com a maior doçura que alguém poderia usar… Deus Ri. E eu volto a acreditar. Diante daquilo que cala as minhas palavras todas, calam-se as Tuas também. E Deus Ri. Com aquele mesmo Riso que rasgou os céus e envolveu todas as montanhas da terra na Hora de Re-Suscitares o Teu Filho Jesus…

E o Teu Riso limpou de todas as lágrimas dos discípulos e das discípulas de Jesus a desesperança… Venceu a escuridão dos seus medos… e todas as suas palavras caladas foram respondidas nessa outra não-palavra que é o Teu Riso de Deus e, acima de tudo, de Pai.

E há poucas coisas mais saborosas do que ouvir o Riso feliz de um Pai.

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